Teatro

Inventão 2

No teatro, sobre o palco

Posso ser o que quiser:

.

Uma coroa na cabeça

Logo me transformo em rei

Rei de um reino distante

E que nunca visitei

.

Uma pistola de plástico

E sou um ladrão

Que foge às grades

De uma fingida prisão.

.

Cassetete e chapéu

E sou um polícia

Que desvenda crimes

Com grande perícia.

.

Um leme de barco

Sou um capitão

De um pedaço de madeira

Que está preso ao chão.

.

Ponho uma enxada ao ombro

E sou uma camponesa

Depois mudo de vestido

E já sou uma princesa

.

Faço uma cara de má

Passo a ser uma vilã

E para ser uma ovelha

Visto um casaco de lã

.

Posso ser o que quiser

Mas se a peça acabou

Eu fico muito feliz

De voltar a ser quem sou.

Cecília Roque

 

Este poema da Cecília venceu, no escalão do 3º Ciclo, o Concurso Literário Jovem promovido pela Câmara Municipal de Ílhavo.

 

Foto: dramatização de um texto de Manuel António Pina – “A Arca do Não É” – pela turma do 7.º F da Escola Secundária da Gafanha da Nazaré, na Biblioteca Municipal de Ílhavo, no dia Mundial da Poesia. Cecília era o Inventão.

 

É a segunda vez que a Cecília vence este concurso. Venceu quando estava no 1º Ciclo (4º Ano) com um texto em prosa – Uma  aventura no mar – e agora, que está no 7º Ano, na modalidade de poesia.

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Uma aventura no mar A Primavera  Cecília e Sissi

MV  

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O pássaro da cabeça

Imagem

Sou o pássaro que canta

dentro da tua cabeça,

que canta na tua garganta,

 que canta onde lhe apeteça.

 

Sou o pássaro que voa

dentro do teu coração

e do de qualquer  pessoa

(mesmo as que julgas que não).

 

Sou o pássaro da imaginação

que voa até na prisão

e canta por tudo e por nada

mesmo de boca fechada.

 

E esta é a canção sem razão

que não serve para mais nada

senão para ser cantada

quando os amigos se vão

 

e ficas de novo sozinho

na solidão que começa

apenas com o passarinho

dentro da tua cabeça.

Manuel António Pina
in O pássaro da cabeça

Manuel António Pina está em destaque na Biblioteca da minha escola…

Deixo-vos com um dos seus poemas de que que gosto muito, retirado do livro a que dá título, numa edição da Quasi, de onde retirei também a imagem que acompanha. A foto possível, tirada com o telemóvel e trabalhada ligeiramente.

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Manuel António Pina

Émeápê

.

Perdemos um grande amigo,

O poeta, o inventão,

Se é que se pode perder

Alguém de tal dimensão.

.

Era maior do que a morte,

Era um anante, um gigão.

Ficou-nos longe da vista,

Mas dentro do coração.

.

Ainda não é o fim

Nem o princípio do mundo

Apenas um pouco tarde

Para algo tão profundo.

.

No cavalinho de pau,

(O do menino Jesus)

Vai agora a cavalgar

Mais célere do que a luz

.

Mas fica sempre connosco,

Não temos razão de queixa,

Pois continua a viver

Entre os livros que nos deixa.

.

Escrevi este poema em Outubro de 2012, na altura  da morte de Manuel António Pina. Reencontrei-o agora e achei que fazia falta no meu blogue.

Era um fiel leitor das suas crónicas.
Tinha tido o gosto de estar com ele num jantar literário na Biblioteca Municipal de Ílhavo e confirmei o que já sabia dele. Um homem simples, de enorme cultura e que usava as palavras com independência e enorme mestria.

No poema há referência a vários dos seus livros. O título foi inspirado em O Têpluquê.

Adicionado mais tarde (comentário que escrevi no facebook):

Li este poema numa tertúlia que decorreu na Gigões & Anantes no dia 20 de Outubro de 2012, dia seguinte ao da morte do Manuel António Pina. Curiosamente a Tertúlia Et Quoi – Escrita Criativa na Universidade de Aveiro tinha sido marcada, algum tempo antes, para aquele local que recebeu o nome duma obra do próprio Manuel António Pina. Provavelmente este poema não teria nascido se não fossem estas coincidências.

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      MV  

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